terça-feira, 24 de outubro de 2023

CAVALGADA

 Os cometas

alinhados ao centro

das corredeiras do amor,

reconfortavam,

na imagem polida,

de uma lua crescente,

a pálida expressão da brisa.

Os movimentos aconchegavam,

carregados de imagens sutis,

as pérolas do tempo.

Mover-se ao centro,

em si mesmo,

era o motivo

dos paradoxos.

Mas a certeza da luz,

embriagada no divino ser,

que caminhava pela porta,

adentrando sua imagem,

espelhando seu sentido,

era maior que a centelha

pulsante do seu coração,

era o propósito.

Assim,

no âmago do espaço,

escalava seus pensamentos

com a inquietante certeza

de prossseguir

cavalgando suas estrelas.


Vanize Claussen

24/10/2023



domingo, 6 de agosto de 2023

BRASÁFRICA

O olho aguça a fala,

tecida no tecido,

 colorida,

africano.

É como um vento,

Uma névoa,

Um lamento,

Uma força,

que a branca canção,

num toque,

não consegue,

por padrões criados,

nesse tempo humano,

captar.

A negra presença se faz,

numa ausência atrás,

agora.

Somos filhos da África,

somos filhos do vento,

da poeira do caminho,

de árvores sagradas,

somos filhos dessa estrada

entre África- Brasil.

Somos a mistura de povos,

NEGROS, BRANCOS, AMARELOS, VERMELHOS

de todos os lados,

SOMOS O COLORIDO BRASILEIRO.

Somo um povo cafuzo ou confuso?

Somos um povo mameluco ou maluco? 

Somos todos, pajem,

de em algum momento.

Em algum movimento,

Viramos a página e seguimos

Na nossa divina presença preta

no coração vermelho-lilás.

Onde mais teremos esse templo?

Nos cabelos encaracolados,

mesclados, revirados,

trançados e lisos.

Seremos a nação de todos,

numa mistura

portadora de cores

e iluminada de amor por todos.

Somos a BRASÁFRICA.

 

Vanize Claussen

06/08/2023 

sábado, 29 de julho de 2023

HUMANIDADE PERDIDA

 

Os anseios que tenho,

da índia que fui,

num templo distante,

é uma sensação vagante,

da trisavó pega no laço.

Onde uma vaga lembrança

sairia a correr,

por dentre as saias,

de tantas gerações,

num rompante masculino

de abocanhar a flor da mulher,

ou despedaçar sua maçã virgem

para seu gozo profundo de prazer.

Onde estariam os modos dos masculinizados,

se tiveram uma mãe-mulher?

Minha lembrança

indíginamente perturbada,

pela breve fagulha passada,

de geração a geração.

Muitos laços foram rompidos.

Muitos índios perdidos

e índias defloradas

ao prazer do homem branco.

Onde estaria esse prazer

de ser desumano?

Por dentre as pernas corredeiras

das índias ligeiras,

porém laçadas e lançadas

ao troco de dar prazer

ao olhar do homem

que branco escondia

sua perversa estupidez

escurecida na alma.

A índia que fui,

na figura da trisavó,

pega no laço,

desfeita está

pela refeita sensação

de uma humanidade

ainda desumana.

Depois de uma pandemia,

dos bocejos todos os dias,

de um alçapão de ideias

pelas redes sociais,

ainda encontramos,

nessa desumanidade latente,

 a desesperança dos aglutinadores.

Aqueles que entram

em nossas vidas,

 para dividir,

entrecortar,

através de pensamentos,

quem jamais poderíamos imaginar.

Ainda,

temos os humanos,

dizentes,

torturando,

através da mente,

invadindo o coração como serpente,

 pessoas que se querem bem.

O mal disfarçado de bem querer,

Invadindo nossa raiz indígena validada

pela trisavó pega no laço.

Assim continua a humanidade,

desacreditada,

fazendo guerras por nada.

Assim vejo a vergonha,

dos descréditos proferidos,

de pensamento equivocado,

a profanar o seio familiar indígena.

Apenas pelo prazer de deflagrar

a corrente da saudável trisavó,

cuidada com ervas.

Assim continua a humanidade perdida.

 

Vanize Claussen

27/07/2023

 

 


DIVINAMENTE

 

Hoje,

Escuto,

nas corredeiras

do tempo invisível,

 a sensação de paz.

O vento trouxe,

dentro e fora,

 a libertação dos movimentos

horizontalmente definidos

no corredor da vida.

Os espaços pequenos,

ficam grandes,

amortecidos,

pela grata forma de viver.

Os contextos simbólicos,

de toda uma vida,

são descartados

como padrões

dos antepassados.

Agora o caminho,

 me observa.

Olho em frente e vou.

O medo não me refreia,

mas impulsiona a seguir,

ganhar estrada a frente.

Busco minha paz,

nos caminhos adequados

na energia da alegria

que trouxe comigo

desde o início de tudo.

O antes, durante e o depois

estão comigo,

estão em mim.

Sou fogo, ar, terra e água.

Sou o ínicio e o fim.

Sou a vida física,

espiritual,

quântica,

emocional.

Sou tudo e nada,

o bem e mal estão em mim.

Sou a fênix espalhada

no túnel do tempo.

Sou o movimento

da menina,

da adolescente,

 da mulher madura.

Sou uma criatura

divinamente esculpida

como cada um aqui vivente.

Sou semente.

 

Vanize Claussen

27/07/2023

 

Livro Eterno Olhar

AS ANCESTRAIS

 

Centelhas aprisionadas

chegaram e chegam

através de cada útero feminino,

das anteriores às posteriores,

de todas as que ainda virão

e transbordarão

em seu ventre-cápsula:

a VIDA.

Assim é a passagem comprada

a uma hereditariedade,

manifestada nas entrelinhas

de mazelas repassadas,

sujas ou limpas,

através dos pequenos chegados.

As ancestrais femininas,

meninas de outras épocas,

que em seu ventre-folha,

passaram o que sabiam,

receberam o que entendiam.

As que hoje ainda estão,

que ainda vivem

da doação de uma

maternidade-útero,

se agraciem e sejam gratas

por servirem de passagem

a outros corpos ao planeta.

Assim é o templo-corpo feminino,

que atravessa de geração a geração,

gerando vidas, gerando ideias,

gerando estados de espírito.

Por muitas vezes desprazer,

trazendo reconstrução

aos rebentos que lhe vieram,

possivelmente,

por um amor

 real ou momentâneo.

O aprendizado é para todas

as que vieram,

todos os que vieram,

femininos ou masculinos seres,

traçados para se humanizarem.

O aprendizado real,

está a porta,

bastando cada um deixa-lo entrar.

As mulheres sábias,

desse tempo ou templo anterior,

são aquelas que souberam

sair dos padrões emotivos

das outras gerações femininas,

as quais não conseguiram explorar

seu gesto de maternidade,

ainda em aprendizado.

O que seria essa expressão?

Qual seria a sensação

de apenas aportar outro corpo,

que também veio a aprender?

Sabendo-se que nenhuma mulher,

mãe ou filha,

ou filhos meninos

saberiam o caminho a seguir.

Onde estaria a sequência

das laterais ambiguidades

de dois seres tão próximos

desde o ventre?

Onde unidos, em um só corpo,

estaria a mãe,

iniciando uma luz divina

a percorrer suas entranhas.

Poderosa é divina presença,

que nos percorre corpo e alma!

Lateja em mim!

Fortalece-me como fonte de mais vida!

Onde eu possa cantar,

essa presença materna,

na minha hereditariedade,

dentro de minha existência divina,

com muito amor aos meus filhos,

aos meus netos,

enquanto estiver aqui!

Que da minha geração adiante,

os padrões negativos

sejam tomados

por alegria e positividade.

Que através dos meus rebentos,

onde o amor percorre,

eu possa sorrir por eles

e suas conquistas.

Que eu seja uma luz

 na vida de minha posteridade!

Que tudo que não pude fazer,

os sonhos que tive,

seja possível a eles

conquistarem os seus!

Pois para ser corpo-passagem

é justo deixar

o caminho divino livre

aos descendentes,

para que encontrem

suas próprias soluções

e seu próprio enredo.

A vida é um sopro lindo,

onde o encontro

com anteriores e posteriores,

é um pequeno flash

da vida quântica depois.

Eu tenho gratidão a todas mulheres

que vieram antes de mim!

Eu sou grata a mulher que veio

através de mim e todas que virão depois

através dessa roda da vida!

Apenas Gratidão!

 

 

Vanize Claussen

27/07/2023

 


 

 

sábado, 17 de junho de 2023

CONTORCER

Quisera,

aos bugalhos menores,

esconder minha decepção.

Porém,

por discretas erupções,

dito a língua do silêncio.

Já não quero falar por tempo

de falar por falar,

mas quero, amiude, a palavra inteira,

farfalhando em meu estômago

de dançarina inquieta.

Apenas,

vou deixar solturas

onde as amarguras entraram.

Vou caminhar

vestida de passarinho

e colorir as árvores ao redor.

Não há tempo de decepções,

apesar do seu murmúrio.

Hoje existe o caminho inteiro,

passeando a minha frente.

Não escondo minha dor,

ela está latejando.

Mas posso amenizar

os contornos que fizeram

com a verdade que é real.

Sem tempo pra dissoluções,

pois quem faz,

faz por prazer ou inveja,

não importa…

Por isso,

meu tempo ficou pequeno,

discreto, sem contorno

pra se ver.

Agora,

depois dos embaraços,

outros abraços verdadeiros,

virão naturalmente.

Por vezes,

o fator consanguíneo

não é tudo.

Então, compreendo,

que quem muito doou,

receberá seu galardão.

Porém, aquele que veio,

machucou e entornou,

seu envenenamento,

em discretas palavreadas,

também recebe, por certo,

o mundo que elucubrou.

Sigo minha rota,

o divino dissolve a teia,

e a gigante aranha,

se mata, de medo.

 

Vanize Claussen

15/06/2023




TODOS E NENHUM


Tornei,
meu suposto tempo,
numa divagação instantânea
de sabores inexatos.
Daqueles, tais quais,
eu quis um dia entender.
Pois do cordão,
ao sabor da gilete umbilical
desse meu destino,
florescem muitas luzes
ao meu redor.
No momento,
ainda turvam,
as imagens
da traíra expressão,
da fugaz razão que passa
a escassez de apenas ouvir.
Descaso do serviçal
em uma vida,
descolando-se a placenta,
na tardia formação
de uma nova etapa.
Agora é seguimento,
nas profundas teias
da cobra cinzenta,
de tantos venenos expostos
navegando junto aos traços,
em vagas desilusões tecidas
desde a infância.
Todos somos responsáveis,
e cada um,
remete em sua fala,
seu pior pecado.
Entrelaçados,
consanguíneos
em vários dissabores,
escritos pela vida,
dos que vieram antes,
dos que não souberam
familiarizar com clareza
nessa correnteza
de expressões
que se chocam
pelo fio perdido, lá atrás.
Onde aconteceu?
Onde a vida parou?
Quem não viu?
O que expandiu?
Nenhum de nós
se deu conta, ainda.
Cada um,
na mercê do destino,
foi buscar sua solução.
E, aqui estou,
tentando emergir
de alguma falha no tempo.
Ainda não sei onde,
nem como aconteceu,
nem consigo visualisar
o que não posso,
por estar dentro
do outro espaço,
onde não tenho acesso.
Apenas expresso,
na espreguiçadeira do destino,
as fagulhas desse tempo,
onde todos e nehum de nós
sabe onde vai dar.

Vanize Claussen
17/06/2023




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O CAMINHANTE